03 abril 2011

Conto XXVIII

O nó afectivo

Numa reunião de pais, na escola da nossa aldeia, a directora incentivava o apoio que os pais deveriam dar aos filhos. Pedia-lhes também, que se fizessem presentes o máximo de tempo possível. Entendia que, embora a maioria dos pais e mães desta comunidade trabalhassem fora, deveriam encontrar algum tempo para se dedicar às crianças. A directora ficou muito surpresa quando um pai se levantou e explicou, com humildade que não tinha tempo para falar com o filho, nem de o ver durante a semana. Quando saia para trabalhar, era muito cedo e o filho ainda estava a dormir. Quando voltava do serviço era muito tarde e o garoto já se encontrava a dormir. Explicou ainda, que tinha de trabalhar assim para arranjar o sustento da família. Contou também, que isso o deixava angustiado por não ter tempo para o seu filho e que tentava redimir-se indo beijá-lo todas as noites quando chegava a casa, para que o filho soubesse da sua presença. Todas as noites dava um nó na ponta do lençol que o cobria, isto acontecia religiosamente, todas as noites quando o ia beijá-lo. Quando filho acordava e via o nó, sabia através dele, que o pai tinha estado ali e o havia beijado. O nó era o meio de comunicação entre eles. A directora ficou emocionada com aquela história singela e emocionante. Ficou surpresa quando constatou que o filho desse pai era o melhor aluno da escola. Este pai não tendo o contacto diário verbal com o filho, foi um exemplo na nossa escola.

Moral da História: O facto faz-nos reflectir sobre as muitas maneiras de um pai ou uma mãe estar presente e de comunicar com o filho. Aquele pai, encontrou a sua, simples mas eficiente maneira de comunicar com o seu filho. Por vezes importamo-nos tanto com a forma de dizer as coisas e esquecemo-nos do principal -, comunicar através do sentimento. Simples gestos, como um beijo e um nó na ponta do lençol, valiam, para aquele filho, muito mais do que os muitos presentes ou desculpas vazias. É bom que nos preocupemos com os nossos filhos, mas é importante que eles saibam e sintam isso mesmo. Para que haja comunicação é preciso que os filhos “ouçam” a linguagem do nosso coração, pois em matéria de afecto os sentimentos sempre falam mais alto que as palavras. É por essa razão que um beijo, revestido do mais puro afecto, cura a dor de cabeça, o arranhão no joelho o medo do escuro etc. A criança pode não entender o significado de muitas palavras, mas sabe registar um gesto de amor. E vós irmãos? Já destes algum nó afectivo no lençol dos vossos filhos hoje?

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