01 fevereiro 2012

Conto LXVII

O Espantalho


Uma vez um pintassilgo foi ferido numa asa por um caçador, e enquanto a ferida não sarou tinha muita dificuldade em voar. Durante algum tempo, conseguiu sobreviver com aquilo que encontrava. Mas entretanto chegou o Inverno, terrível e gelado, e o pintassilgo cada vez mais tinha dificuldade em encontrar comida.
Uma manhã, cheio de frio e procurando desesperado alguma coisa que comer, poisou num espantalho. Ao contrário dos outros espantalhos, este era muito amigo das aves do céu. Tinha o corpo feito de palha, metida num velho fato; a cabeça era uma grande abóbora; os dentes da boca eram grãos de milho, e o nariz uma cenoura. O espantalho, gentil como sempre, perguntou ao pintassilgo:
- Que te aconteceu pintassilgo?
O pintassilgo suspirou:
- O frio está a matar-me e não tenho que comer nem onde me refugiar. Penso que não chegarei à Primavera…
- Não tenhas medo. Refugia-te aqui debaixo do meu casaco. A minha palha está seca e quente.
E assim, o pintassilgo encontrou uma casa no coração de palha do espantalho. Ficava ainda o problema da comida pois era cada vez mais difícil encontrar sementes. Um dia em que estava tudo coberto de geada, disse-lhe o espantalho:
- Pintassilgo, come os meus dentes, são deliciosos grãos de milho…
- Mas tu ficarás sem boca!
- Parecerei mais sábio…
- O espantalho ficou sem boca, mas estava contente porque o seu pequeno amigo vivia. E sorria-lhe com os olhos de noz. Alguns dias depois, foi a vez do nariz de cenoura. Disse-lhe:
- Come-o. É rico em vitaminas…
Chegou depois a vez das nozes que faziam de olhos. Disse o espantalho ao amigo pintassilgo:
- Basta-me escutar os teus cantos…
Finalmente, ofereceu também a abóbora que servia de cabeça. Quando chegou a Primavera, o espantalho já não existia, mas o pintassilgo estava vivo e voava no céu azul.

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