10 julho 2012

Conto LXXXVII


Não Vale Desistir

Andamos cansados da vida, do trabalho, das pessoas, das obrigações, das desilusões e dos fracassos. Andamos cansados de crises, de orçamentos, de cortes, de papeladas, de decretos e de deitarmos contas à vida. Andamos cansados das palavras redondas que rebolam sobre si próprias; dos discursos pobres, ignorantes, sem alma, sem sentido e sem razão. Andamos cansados de gente pequena, sem ideais, sem altruísmo, alheia ao bem comum e ao interesse comum. Andamos cansados de gente formatada. Andamos cansados das nuvens tenebrosas que pairam dia e noite sobre nós, ao mesmo tempo que tantos nos querem convencer de que não há céu. Andamos cansados de andar no fio da navalha, sem segurança, sem confiança, sem horizontes onde possamos ancorar a réstia de esperança que teima em viver. Andamos cansados. Mas, não vale desistir. O que posso fazer com a minha pobreza? O que posso fazer com a minha história? O que posso fazer com a minha experiência? O que posso fazer com a minha generosidade? O que posso fazer com as minhas palavras, com as minhas mãos, com o meu respirar, com o meu olhar, com a minha fragilidade, com o meu cansaço? O que posso fazer neste dia, para viver e para dar alguma vida ao mundo? Não estamos sós, abandonados ao nosso cansaço. Ressoa eternamente o Evangelho, a Boa Nova: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso”. (Mt 11, 28)

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