Domingo da Santíssima Trindade
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda
muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier
o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará
de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para
vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o
que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo
anunciará».
(Jo 16)
Depois do tempo pascal, concluído no domingo passado com o
Pentecostes, a liturgia voltou ao “tempo comum”. Mas isto não significa que o
empenho dos cristãos deva diminuir, aliás, tendo entrado na vida divina
mediante os Sacramentos, somos chamados quotidianamente e estar abertos à ação
da Graça, para progredir no amor a Deus e ao próximo. O domingo de hoje da
Santíssima Trindade, num certo sentido, recapitula a revelação de Deus que
aconteceu nos mistérios pascais: morte e ressurreição de Cristo, a sua ascensão
à direita do Pai e a efusão do Espírito Santo. A mente e a linguagem humanas
são inapropriadas para explicar a relação existente entre o Pai, Filho e o
Espírito Santo, e contudo os Padres da Igreja procuraram explicar o mistério de
Deus Uno e Trino, vivendo-o na própria existência com fé profunda. De facto, a
Trindade divina começa a habitar em nós no dia do Batismo: “Eu te batizo – diz
o ministro – em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. O nome de Deus, no
qual fomos batizados, recordamo-lo todas as vezes que fazemos em nós mesmo o
sinal da cruz. O teólogo Romano Guardini, a propósito do sinal da cruz,
observa: “Fazemo-lo antes da oração, para que… nos ponha espiritualmente em
ordem; concentre em Deus pensamentos, coração e vontade; depois a oração, para
que permaneça em nós o que Deus nos doou… Ele abraça todo o ser, corpo e alma,…
e tudo se torna consagrado em nome do Deus uno e trino” (Lo spirito della
liturgia. I santi segni, Brescia 2000, págs. 125-126). No sinal da cruz e no
nome do Deus vivente está portanto contido o anúncio que gera a fé e inspira a
oração. E, como no evangelho Jesus promete aos Apóstolos que “quando ele vier,
o Espírito da verdade, guiar-vos-à a toda a verdade” (Jo 16, 13), assim
acontece na liturgia dominical, quando os sacerdotes dispensam, de semana em semana,
o Pão da Palavra e da Eucaristia. Também o Santo Cura d’Ars o recordava aos
seus fieis: “Quem acolheu a vossa alma – dizia – ao primeiro entrar na Vida? O
sacerdote. Quem a nutre para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O
sacerdote. Quem a preparará para cumprir diante de Deus, lavando-a pela última
vez no sangue de Jesus Cristo?... sempre o sacerdote” (Carta de proclamação do
Ano sacerdotal). Queridos amigos, façamos nossa a oração de Santo Ilário de
Poitiers: “Conserva incontaminada esta fé recta que está em mim e, até ao meu
último respiro, dá-me igualmente esta voz da minha consciência, para que eu
permaneça sempre fiel ao que professei na minha regeneração, quando fui
batizado no Pai, no Filho e no Espírito Santo” (De Trindade, XII, 57, CCL 62/a,
627). Invocando a Bem-aventurada Virgem Maria, primeira criatura plenamente
inabitada pela Santíssima Trindade, pedimos a sua protecção para prosseguir bem
a nossa peregrinação terrena.
(do Angelus 30/05/2010, Bento XVI)
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