X Domingo do Tempo Comum
Naquele tempo, dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada
Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegar à
porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era
viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se
dela e disse-lhe: «Não chores». Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que
o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te». O
morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe.
Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo:
«Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo». E a fama
deste acontecimento espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas.
(Lc 7, 11-17)
A eucaristia, a santíssima virgem e o sacerdócio são dons do
coração amado de Jesus.
Quem poderá descrever dignamente as pulsações do coração
divino, índices do seu infinito amor, naqueles momentos em que deu aos homens
os seus mais apreciados dons, isto é, a si mesmo no sacramento da eucaristia,
sua mãe santíssima, e a participação no ofício sacerdotal? Ainda antes de
celebrar a última ceia com seus discípulos, ao pensar em que ia instituir o
sacramento do seu corpo e do seu sangue, com cuja efusão devia confirmar-se a
nova aliança, sentiu o seu coração agitado de intensa emoção, que ele
manifestou aos seus apóstolos com estas palavras: “Ardentemente desejei comer
convosco este cordeiro pascal antes da minha paixão” (Lc 22, 15); emoção que,
sem dúvida, foi ainda mais veemente quando ele “tomou o pão, deu graças,
partiu-o e deu-o a eles, dizendo: ‘Isto é meu corpo, que se dá por vós; fazei
isto em memória de mim’. Do mesmo modo tomou o cálice, depois de haver ceado,
dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que por vós será derramado’”
(Lc 22, 19-20). Com razão, pois, pode-se afirmar que a divina eucaristia, como
sacramento que ele dá aos homens e como sacrifício que ele mesmo continuamente
imola “desde o nascente até o poente” (Ml1, 11), e também o sacerdócio, são,
sem dúvida, dons do sagrado coração de Jesus. Dom igualmente precioso do mesmo sagrado coração é, como
indicávamos, a santíssima Virgem, Mãe excelsa de Deus e Mãe amadíssima de todos
nós, era justo que o género humano tivesse por mãe espiritual aquela que foi
mãe natural do nosso Redentor, a ele associada na obra de regeneração dos
filhos de Eva para a vida da graça. A propósito disso, escreve a respeito dela
santo Agostinho: “Evidentemente ela é mãe dos membros do Salvador, que somos
nós, porque com a sua caridade cooperou para que nascessem na Igreja os fiéis,
que são membros daquela cabeça”. Ao dom incruento de si mesmo sob as espécies
do pão e do vinho, Jesus Cristo nosso Salvador quis unir, como testemunho da
sua caridade íntima e infinita, o sacrifício cruento da cruz. Fazendo isso, deu
exemplo daquela sublime caridade que com as seguintes palavras ele mostrara aos
seus discípulos como meta suprema de amor: “ Ninguém tem amor maior do que
aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15, 13). Pelo que o amor de Jesus Cristo,
Filho de Deus, revela no sacrifício do Gólgota, de modo o mais eloquente, o
amor do próprio Deus: “Nisto conhecemos a caridade de Deus: em haver ele dado
sua vida por nós; e assim nós devemos dar a nossa vida por nossos irmãos” (1 Jo
3, 16). Certamente, o divino Redentor foi crucificado mais pela força do amor
do que pela violência dos algozes, e o seu holocausto voluntário é dom supremo
feito a cada um dos homens, segundo a incisiva expressão do Apóstolo: “Amou-me
entregou-se por mim” (Gl 2, 20).
(da encíclica Haurietis Aquas nº34 a 38, Papa Pio XII)