III Domingo do Advento – Ano A
Naquele tempo, João Baptista ouviu falar, na prisão, das
obras de Cristo e mandou-Lhe dizer pelos discípulos: «És Tu Aquele que há-de
vir ou devemos esperar outro?» Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que
vedes e ouvis: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os
surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres. E
bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo». Quando os
mensageiros partiram, Jesus começou a falar de João às multidões: «Que fostes
ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem
vestido com roupas delicadas? Mas aqueles que usam roupas delicadas
encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim – Eu
vo-lo digo – e mais que profeta. É dele que está escrito: “Vou enviar à tua
frente o meu mensageiro, para te preparar o caminho”. Em verdade vos digo:
Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas
o menor no reino dos Céus é maior do que ele».
(Mt 11, 2-11)
Neste terceiro domingo de Advento, a Liturgia propõe um
trecho da Carta de São Tiago, que inicia com esta exortação: «Sede, pois,
pacientes, irmãos, até à vinda do Senhor» (Tg 5, 7). Parece-me muito
importante, nos dias de hoje, ressaltar o valor da constância e da paciência,
virtudes que pertenciam à bagagem normal dos nossos pais, mas que hoje são
menos populares, num mundo que exalta bastante a mudança e a capacidade de se
adaptar a situações sempre novas e diversas. Sem de nada privar estes aspectos,
que são também qualidades do ser humano, o Advento chama-nos a incrementar
aquela tenacidade interior, aquela resistência do ânimo que nos permitem não
desesperar na expectativa de um bem que demora para chegar, mas a esperá-lo,
aliás, a preparar a sua vinda com confiança laboriosa. «Vede como o lavrador –
escreve São Tiago – aguarda o precioso fruto da terra e tem paciência até
receber a chuva temporã e a tardia. Tende, também vós, paciência e fortalecei
os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima» (Tg 5, 7-8). A
comparação com o agricultor é muito expressiva: quem semeou no campo, tem
diante de si alguns meses de espera paciente e constante mas sabe que a semente
entretanto realiza o seu percurso, graças à chuva do Outono e da Primavera. O
agricultor não é fatalista, mas é modelo de uma mentalidade que une de modo
equilibrado a fé e a razão, porque, por um lado, conhece as leis da natureza e
realiza bem o seu trabalho, e, por outro, confia na Providência, porque algumas
coisas fundamentais não estão nas suas mãos, mas nas mãos de Deus. A paciência
e a constância são precisamente sínteses entre o compromisso humano e a
confiança em Deus. «Animai os vossos corações», diz a Escritura. Como podemos
fazer isto? Como podemos tornar mais fortes os nossos corações, já em si
bastante frágeis, e tornados ainda mais instáveis pela cultura na qual estamos
imersos? A ajuda não nos falta: é a Palavra de Deus. De facto, enquanto tudo é
passageiro e mutável, a Palavra do Senhor não é passageira. Se as vicissitudes
da vida nos fazem sentir desorientados e todas as certezas parecem abaladas,
temos uma bússola para encontrar a orientação, temos uma âncora para não ir à
deriva. E aqui o modelo que nos é oferecido é o dos profetas, ou seja, daquelas
pessoas que Deus chamou para que falem em seu nome. O profeta encontra a sua
alegria e a sua força na Palavra do Senhor e, enquanto os homens procuram com
frequência a felicidade por caminhos que se revelam errados, ele anuncia a
verdadeira esperança, a que não desilude porque está fundada na fidelidade de
Deus. Cada Cristão, em virtude do Baptismo, recebeu a dignidade profética:
possa cada um redescobri-la e alimentá-la, com uma escuta assídua da Palavra
divina. No-lo obtenha a Virgem Maria, que o Evangelho chama bem-aventurada
porque acreditou no cumprimento das palavras do Senhor (cf. Lc 1, 45)
Papa Emérito Bento XVI, 12 de Dezembro de 2010
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