08 maio 2014

Folha Dominical 55

III Domingo da Páscoa – Ano A

Dois discípulos de Emaús iam a caminho duma povoação chamada Emaús, que ficava a sessenta estádios de Jerusalém. Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido. Enquanto falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem. Ele perguntou-lhes. «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?» Pararam entristecidos. E um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único habitante de Jerusalém a ignorar o que lá se passou estes dias». E Ele perguntou: «Que foi?» Responderam-Lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel. Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu. É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram: foram de madrugada ao sepulcro, não encontraram o corpo de Jesus e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos a anunciar que Ele estava vivo. Mas a Ele não O viram». Então Jesus disse-lhes: «Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditarem em tudo o que os profetas anunciaram! Não tinham o Messias de sofrer tudo isso para entrar na Sua glória?» Depois, começando por Moisés e passando por todos os Profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de ir para diante. Mas eles convenceram n’O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, Senhor, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram se lhes os olhos e reconheceram n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com ele, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão.
(Lc 24, 13-35)

O Evangelho deste domingo o terceiro de Páscoa refere-se à célebre narração dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35). Conta que dois seguidores de Cristo os quais, no dia depois do sábado, isto é, o terceiro após a sua morte, tristes e abatidos deixaram Jerusalém e dirigiam-se para uma aldeia pouco distante chamada Emaús. Ao longo do caminho aproximou-se deles Cristo ressuscitado, mas eles não o reconheceram. Vendo-os aflitos, Jesus explicou, com base nas Escrituras, que o Messias tinha que sofrer e morrer para alcançar a sua glória. Depois, entrou com eles em casa, sentou-se à mesa, abençoou o pão e partiu-o, e nesse momento reconheceram-n’O, mas ele desapareceu, deixando-os cheios de admiração diante daquele pão partido, novo sinal da sua presença. Imediatamente os dois voltaram para Jerusalém e contaram o que tinha acontecido aos outros discípulos. A localidade de Emaús não foi identificada com certeza. Existem várias hipóteses, e isto é sugestivo, porque nos deixa pensar que Emaús representa na realidade todos os lugares: a estrada que nos conduz é o caminho de todos os cristãos, aliás, de todos os homens. Nas nossas estradas Jesus ressuscitado faz-se companheiro de viagem, para reavivar nos nossos corações o calor da fé e da esperança e partir o pão da vida eterna. No diálogo dos discípulos com o viandante desconhecido impressiona a expressão que o evangelista Lucas coloca nos lábios de um deles: “Nós esperávamos…” (24, 21). Este verbo no passado diz tudo: Acreditámos, seguimos, esperámos… mas acabou. Também Jesus de Nazaré, que se mostrou um profeta poderoso em obras e em palavras, falhou, e nós ficamos desiludidos. Este drama dos discípulos de Emaús surge como um espelho da situação de muitos cristãos do nosso tempo: parece que a esperança da fé tenha falhado. A própria fé entra em crise, por causa de experiências negativas que nos fazem sentir abandonados pelo Senhor. Contudo, esta estrada para Emaús, na qual caminhamos, pode tornar-se uma via de purificação e maturação do nosso crer em Deus. Também hoje podemos entrar em diálogo com Jesus, escutando a sua palavra. Também hoje Ele parte o pão por nós e doa-se a si mesmo como nosso Pão. Dessa maneira, o encontro com Cristo ressuscitado, que é possível também hoje, doa-nos uma fé mais profunda e autêntica, harmonizada, por assim dizer, através do fogo do evento pascal; uma fé robusta porque se alimenta não com ideias humanas, mas com a Palavra de Deus e a sua presença real na Eucaristia. Este maravilhoso texto evangélico já contêm a estrutura  da Santa Missa: na primeira parte a escuta da Palavra através das Sagradas Escrituras; na segunda a liturgia eucarística e a comunhão com Cristo presente  no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. Ao alimentar-se nesta dúplice mesa, a Igreja edifica-se incessantemente e renova-se dia após dia na fé, na esperança e na caridade. Por intercessão de Maria Santíssima, rezemos a fim de que todos os cristãos e comunidades, ao reviver a experiência dos discípulos de Emaús, redescubram a graça do encontro transformador com o Senhor ressuscitado.

Papa Emérito Bento XVI, 6 de Abril de 2008 

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