29 abril 2013

Folha Dominical 17


V Domingo da Páscoa

Quando Judas saiu do cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-l’O-á  sem demora.
Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco.
Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».
(Jo 13, 31-33a. 34-35)

Como bem sabemos, as Sagradas Escrituras constituem o testemunho escrito da Palavra divina, o memorial canónico que corrobora o acontecimento da Revelação. Por conseguinte, a Palavra de Deus precede e excede a Bíblia. É por este motivo que a nossa fé não tem no centro unicamente um livro, mas uma história de salvação e sobretudo uma Pessoa, Jesus Cristo, Palavra de Deus que se fez carne. Precisamente porque o horizonte da Palavra divina abrange e se estende para além da Escritura, para a compreender de maneira adequada é necessária a presença constante do Espírito Santo, que «ensina toda a verdade» (Jo 16, 13). É preciso inserir-se na corrente da grandiosa Tradição que, com a assistência do Espírito Santo e a orientação do Magistério, reconheceu os escritos canónicos como Palavra dirigida por Deus ao seu povo e jamais cessou de os meditar e descobrir as suas riquezas inesgotáveis. O Concílio Vaticano II reiterou-o com grande clarividência na Constituição dogmática Dei Verbum: «Tudo quando diz respeito à interpretação da Escritura está sujeito ao juízo último da Igreja que tem  o mandato divino e o ministério de guardar e interpretar a palavra de Deus» (n.12). Como nos recorda ainda a mencionada Constituição conciliar, existe uma unidade inseparável entre Sagrada Escritura e Tradição, porque ambas derivam de uma mesma fonte: «A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, formam como que uma só realidade e tendem para o mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus, enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, exponham e difundam fielmente na sua pregação; daqui resulta, assim, que a Igreja não haure só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência» (Ibid, n.9). Portanto, o exegeta deve estar atento a sentir a Palavra de Deus presente nos textos bíblicos, situando-nos no interior da própria fé da Igreja. A interpretação das Sagradas Escrituras não pode ser unicamente um esforço cientifico individual, mas deve ser sempre confrontada, inserida e corroborada pela tradição viva a Igreja. Esta norma é decisiva para esclarecer a relação correcta e recíproca entre a exegese e o Magistério da Igreja. Os textos inspirados por Deus foram confiados à Comunidade dos fiéis, à Igreja de Cristo, para alimentar a fé e orientar a vida de caridade. O respeito por esta natureza profunda das Escrituras condiciona a própria validade e a eficácia da hermenêutica bíblica. Isto comporta a insuficiência de qualquer interpretação subjectiva ou simplesmente limitada e uma análise incapaz de abranger em si aquele sentido global que, ao longo dos séculos, constitui a Tradição de todo o Povo de Deus, que «in credendo falli nequit» (Conc. Ecum. Vat. Ii, Const. Dogm. Lumen gentium, 12)
(do discurso de Sua Santidade Papa Francisco à Pontifícia Comissão Bíblica)

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