29 agosto 2013

Folha Dominical 32

XXI Domingo do Tempo Comum

Naquele tempo, Jesus dirigia-Se para Jerusalém e ensinava nas cidades e aldeias por onde passava. Alguém Lhe perguntou: «Senhor, são poucos os que se salvam?» Ele respondeu: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, vós ficareis fora e batereis à porta, dizendo: ‘Abre-nos senhor’; mas ele responder-vos-à: ‘Não sei donde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste nas nossas praças’. Mas ele responderá: ‘Repito que não sei donde sois. Afastai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade’. Aí haverá choro e ranger de dentes, quando virdes no reino de Deus, Abraão, Isaac e Jacob e todos os Profetas, e vós a serdes postos fora.
Hão-de vir do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa do reino de Deus. Há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos».
(Lc 13, 22 -30)

Também a liturgia de hoje nos propõe uma palavra de Cristo iluminadora e ao mesmo tempo desconcertante. Durante a sua última subida a Jerusalém, alguém lhe pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvam?”. E Jesus responde: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque muitos, digo-vo-lo Eu, tentarão entrar sem conseguir” (Lc 13, 23-24). Que significa esta “porta estreita”? Por que muitos não conseguem entrar por ela? Trata-se porventura de uma passagem reservada a alguns eleitos? De facto, esta modo de raciocinar dos interlocutores de Jesus, considerando bem, é sempre actual: a tentação de interpretar a prática religiosa como fonte de privilégios ou de certezas está sempre pronta para armar uma cilada. Na realidade, a mensagem de Cristo é precisamente em sentido oposto: todos podemos entrar na vida, mas para todos a porta é “estreita”. Não há privilégios. A passagem para a vida eterna está aberta a todos, mas é  “estreita” porque é exigente, requer compromisso, abnegação, mortificação do próprio egoísmo. Mais uma vez, como nos domingos passados, o Evangelho nos convida a considerar o futuro que nos espera e para o qual nos devemos preparar durante a nossa peregrinação na terra. A salvação, que Jesus realizou com a sua morte e ressurreição, é universal. Ele é o único Redentor e convida todos para o banquete da vida imortal. Mas a uma só e igual condição: a de se esforçar por segui-l’O e imitá-l’O, assumindo sobre si, como Ele fez, a própria cruz e dedicando a vida ao serviço dos irmãos. Portanto, esta condição para entrar na vida celeste é única e universal. No último dia recorda ainda Jesus no Evangelho não seremos julgados com base em privilégios presumíveis, mas segundo as nossas obras. Os “operadores de iniquidade” serão excluídos, e serão acolhidos os que tiverem realizado o bem e procurado a justiça, à custa de sacrifícios. Portanto, não será suficiente declarar-se “amigos” de Cristo vangloriando-se de falsos méritos: “Comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças” (Lc 13, 26). A verdadeira amizade com Jesus expressa-se no modo de viver: expressa-se com a bondade do coração, com a humildade, com a mansidão e a misericórdia, o amor pela justiça e a verdade, o compromisso sincero e honesto pela paz e pela reconciliação. Poderíamos dizer que é este o “bilhete de identidade” que nos qualifica como seus autênticos “amigos”; é este o “passaporte” que nos permitirá entrar na vida eterna. Queridos irmãos e irmãs, se quisermos também nós entrar pela porta estreita, devemos empenhar-nos a ser pequenos, isto é, humildes de coração como Jesus. Como Maria, sua e Nossa Mãe. Foi ela a primeira, seguindo Jesus, a percorrer o caminho da Cruz e foi elevada à glória do Céu, como recordámos há alguns dias. O povo cristão invoca-a como Ianua Caeli, Porta do Céu. Peçamos-lhe que nos guie, nas nossas opções quotidianas, pelo caminho que conduz à “porta do Céu”.

(Papa Emérito Bento XVI, ângelus 26 de Agosto de 2007)

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