31 outubro 2013

Procurai a minha face

Foi uma leitura prolongada, mas finalmente terminei. Este livro deu-me muito sono, é um facto, e estive mesmo mesmo para o meter para um canto, mas depois olhava para ele e pensava que merecia mais uma oportunidade e assim foi, uma e outra e outra e outra vez. Mas… não gostei, só pelo facto de ser muito monótono, muito pormenorizado, com detalhes muito pouco relevantes para a história, enfim, muitas partes “encher chouriços”, falar sobre arte que (infelizmente, talvez) não me cativa. Não conheço o autor, pelos vistos é uma prática dele, e os seus fãs apreciam. Ainda bem, porque não se pode gostar todos do mesmo. Trata-se de um livro de John Updike – “Procurai a minha face”, não o comprei, ele veio de acrescento com um livro que comprei e claro je agradece, e como já disse dei muitas hipóteses mas li e terminei e estou muito orgulhosa. Deixo aqui o resumo do livro e um enxerto que abri ao acaso no livro e que até achei interessante, o resumo:
“Num dia de Primavera em Vermont, uma pintora de setenta e nove anos, Hope Chafetz, conta a história da sua vida a Kathryn, uma jovem entrevistadora de Nova Iorque. As perguntas fazem com que Hope regresse à sua juventude, aos dias conturbados do pós-guerra da arte americana e aos seus relacionamentos com os artistas que marcaram os seus tempos. À medida que o tempo vai passando, entrevistadora e entrevistada tentam compreender-se mutuamente através da diferença de idade, da experiência e do tempo que existe entre elas. E subtilmente, enquanto se vão conhecendo uma à outra, o seu relacionamento muda.”

O resumo nas minhas palavras, trata-se de uma entrevista a uma antiga pintora que conta a sua vida, nomeadamente os seus casamentos, a relação com os filhos, os seus relacionamentos conjugais e extra conjugais, a revolta da filha, entre outros assuntos pouco mais relevantes. No meio desta conversa toda que ocupa um dia inteiro, dão lugar a outras conversas, principalmente sobre a vida da jornalista, e tentam descobrir uma amizade entre elas onde acabam por partilhar refeições e descobre as divisões da casa desta idosa pintora.

O enxerto:
“- (…) Sei que a menina e os da sua geração pensarão que estou louca, mas a não-existência de Deus é uma coisa a que não me habituo, que me parece antinatural.
Os lábios de Kathryn, complicadas tranças de músculos, vistos de perto debaixo desta fria luz natural, desenhados para dar prazer a si mesma e aos outros se não temer a contaminação (mas como pode a sua geração não a temer tal como a de Hope temia a coacção?), hesitam tentando encontrar as palavras certas, o cérebro talvez confundido por esta saída não solicitada para o exterior, onde pequenas gotas de chuva rasgam pequenos buracos no céu da sensação. Ou talvez, se for judia, seja incapaz de colocar a questão de Deus exactamente como o faria um cristão em termos alternativos de existência ou não-existência. Para o povo escolhido, a relação com Deus evoluiu para além da possibilidade de o considerar um conhecido com o qual uma pessoa deixou de se dar, convertendo-se numa familiaridade que dá origem ao desprezo; foi assim que Bernie o expôs a Hope, o seu enorme corpo fatigado cheirando a suor e a tabaco, estendido ao seu lado na cama enquanto no andar de baixo as telas lançavam gritos inaudíveis de cor uniforme e apaixonada. Ser judeu divertia-o, brincava com esse facto, amontoava essas cinzas sobre a sua cabeça de dandy e transformava a sua fúria tribal num Socialismo visionário.
- Tive um namorado – afirma Kathryn hesitante – que estava a preparar o mestrado em física em Columbia e que me disse que, com o conhecimento que os investigadores alcançaram actualmente, não há lugar para Deus no universo.
- Em nós, minha querida. Esse lugar está em nós, fracos e tolos como somos.
- Ele explicou-me que era uma questão de energia, de equações. Que por fim todos os elementos se afastarão muito uns dos outros e passarão triliões de anos com tudo escuro e morto. Não haverá lugar onde possamos estar, mesmo sendo almas puras. Também elas precisam de energia.
Estas palavras provocaram arrepios em Hope. Não pode ignorar que os pingos de chuva lhes caem nas mãos e no rosto, batendo também nos anoraques sintéticos.
- De um certo ponto de vista, tenho a certeza de que ele tem razão – diz Hope impaciente. – Mas olhe ali para o bosque, pode ver um pouco do telhado da casa da nascente. E pode ver o caminho que leva até lá e a uma paisagem ainda mais fascinante. Todos os Verões, temos de derrubar algumas árvores para manter a vista. Digo “nós” porque evidentemente são os homens que contrato que o fazem. Uma família de chauvinistas que odeiam receber ordens de uma mulher.
- Eu…
- Pode prescindir da paisagem, bem sei. Vamos voltar para dentro antes que a água para o chá se evapore completamente. (…)”


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