15 março 2014

Folha Dominical 50

I Domingo da Quaresma – Tema “E recebeu Maria sua esposa” «Esposo»

Naquele tempo, disse Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demónio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». Então o Demónio conduziu O à cidade santa, levou O ao pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, lança Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Respondeu-lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». De novo o Demónio O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’». Então o Demónio deixou-O e logo os Anjos se aproximaram e serviram Jesus.
(Mt 4, 1-11)
Este é o primeiro Domingo da Quaresma, o Tempo litúrgico de quarenta dias que constitui na Igreja um itinerário espiritual de preparação para a Páscoa. Em síntese, trata-se de seguir Jesus que se dirige decididamente rumo à Cruz, auge da sua missão de salvação. Se nos interrogamos: qual o motivo da Quaresma? E da Cruz? A resposta em termos radicais é a seguinte: porque existe o mal, aliás o pecado, que segundo as Escrituras é a causa profunda de todo o mal. Mas esta afirmação não é de modo algum evidente, e muitos não aceitam a própria palavra «pecado», porque ela pressupõe uma visão religiosa do mundo e do homem. Com efeito, é verdade: se se elimina Deus do horizonte do mundo, não se pode falar de pecado. Como quando o sol se esconde, desaparecem as sombras; a sombra só aparece quando há o sol; assim, o eclipse de Deus comporta necessariamente o eclipse do pecado. Por isso, o sentido do pecado – que é diverso do «sentido de culpa», como o entende a psicologia – adquire-se, redescobrindo o sentido de Deus. Manifesta-o o Salmo Miserere, atribuído ao rei David, dirigindo-se a Deus (Sl 51 [50], 6). Perante o mal moral, a atitude de Deus consiste em opor-se ao pecado e salvar o pecador. Deus não tolera o mal, porque é Amor, Justiça e Fidelidade; e precisamente por isso não deseja a morte do pecador, mas que ele se converta e viva. Deus intervém para salvar a humanidade: vemo-lo em toda a história do povo judeu, a partir da libertação do Egipto. Deus está determinado a libertar os seus filhos da escravidão, para os conduzir à liberdade. E a escravidão mais grave e mais profunda é precisamente a do pecado. Foi por isso que Deus enviou o seu Filho ao mundo: para libertar os homens do domínio de Satanás, «origem e causa de todo o pecado». Enviou-o à nossa carne mortal, para que se tornasse vítima de expiação, morrendo por nós na cruz. Contra este plano de salvação definitivo e universal, o Diabo opôs-se com todas as forças, como demonstra de modo particular o Evangelho das tentações de Jesus no deserto, que é proclamado todos os anos no primeiro Domingo da Quaresma. Com efeito, entrar neste tempo litúrgico significa aliar-se sempre com Cristo, contra o pecado, enfrentar – quer como individuo, quer como Igreja – o combate espiritual contra o espírito do mal (Quarta-Feira de Cinzas, Oração da Coleta).

Bento XVI, ângelus de 13 de Março de 2014

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