04 dezembro 2010

Conto XI

Criancinhas
A criancinha quer Playstation. Nós damos-lhe. A criancinha quer estrangulara avó. Nós deixamos. A criancinha berra porque não quer comer a sopa. Nós eliminamo-la da ementa e acaba tudo em festim de chocolate. A criancinha quer bife e batatas fritas, hambúrgueres, pizas, Coca-Cola às litradas. A criancinha quer camisola Adidas e ténis Nike. Nós damos porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola, é perigoso ser diferente, tornamo-los rejeitados pela sociedade. A criancinha desata num berreiro no restaurante. Nós fazemos-lhe a vontade para ela se calar. Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta. É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. Gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa de marca, jantares e bares. A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressionar porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio, de noitada em noitada. Convém que os pais se comecem a chegar à frente na compra da mota, do carro e de umas férias à maneira. A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca». Um dia, na escola o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos, a mesma criancinha que os papás abandonaram à sua sorte. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala, correm para a escola e batem nos professores. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar-lhes a gorda fatia do salário. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda ai a fazer porcarias».
Moral da História:
Não é este um fiel retrato da realidade das nossas criancinhas e das nossas famílias. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital brutalmente acoitados pelas criancinhas. Estes são os paizinhos que se dizem modernos. É por isso que hoje em dia não há respeito por ninguém!!!
Vai ser este o futuro da nova geração!!!

Sem comentários:

Enviar um comentário