Madeiro de Natal
Os “rapazes das sortes” sabem que, à saída da missa o madeiro tem de estar no adro da Igreja. Bater, cortar, serrar, empurrar “a ver se vai”… “não, não vai… tas maluco ou quê? Ainda temos muito que pernear”. Bate daqui, tira terra dali, corta acolá “deixa ver essa machada que estás aí a fazer a sorna” ou “pega-me a “serra” desse lado”… “mais um empurrãozinho…” “Está quase… fujam que já lá vai…” “Pronto, já está…” “Já está??? Quem é que consegue carregar um “burro” destes?”
Pelas cinco da manhã tudo está traçado. Empurra daqui, força dali, uuupppppaaaa!!! Vai o primeiro e o dono, com pena das vacas, protesta “bonda, assim está bem”. Pelas oito horas, o desfile aí vai. A canalhada vem à beira do Povo espreitar a proeza e juntar-se à algazarra. O mulherio, acabado de sair da Missa, espreita, no adro, enquanto se vai aquecendo ao sol e desenferrujando a língua numa de “prós e contras”.
Empoleirados lá no alto dos carros, que as vacas, mansamente e bem decoradas puxam, calmamente, os moços “das sortes”, por conta de quem a festa corre, entoam desafinados cânticos de Natal. Descarregar os pesados troncos fazendo de valentes frente àquele povo ali reunido redobra as forças. Não demora muito que um monte de troncos se ajeite para aquecer os corações e os corpos na noite de consoada, das filhós, do bacalhau com couves traçadas, bem regadas com azeite novo, Missa do Galo, noite escura iluminada pelas luzes bruxuleantes das lanternas de azeite. “Viva o madeiro qu’inda está inteiro”.
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