Um Grande Susto
No dia de consoada, o céu fica ainda mais cinzento com o fumo que foge das chaminés. A meio da tarde, quando toda a aldeia cheira a canela e açúcar queimado, os miúdos juntam-se no largo da Igreja. E esperam, impacientes. Finalmente, aparece o sacristão com um grande cesto vazio. Os miúdos correm a tirar-lho das costas um pouco curvadas. E, como cabritos, num instante estão empoleirados nos penedos.
Com as mãos retiram das pedras compridos torrões de musgo, tufos de erva, heras muito verdes. Quando o cesto fica a transbordar levam-no com custo para dentro da igreja. Depois, na sacristia pegam numa chave muito velha, muito grande e abrem a porta dum armário antigo. E, de repente, faz-se um grande silêncio.
Com muito cuidado, retiram as figuras de barro e levam-nas para junto do altar-mor. Pacientemente montam as ripas e pregam-nas. Colocam caixotes e pedregulhos. E cobrem tudo com musgo, hera e ervas. E, de repente, tudo se transforma: lá está ela, a gruta de Belém. E os montes, os penedos, os caminhos. Logo depois de aparecem os pastores e os rebanhos. Uma vaca com um chifre partido, e um burrico sem uma orelha metem-se dentro da gruta. E ficam muito quietos a bafejar à beira da manjedoura que tem palha.
Cansados, chegam José, depois Maria. Finalmente, gorducho e sem roupa, Jesus deita-se sobre a manjedoura. E, indiferente ao frio, não pára de rir. Os miúdos ficam um ror de tempo a olhar para ele, assim tão mal agasalhado.
Por isso, o ano passado o sacristão apanhou um grande susto. À noitinha deu pela falta de Jesus. Aflito, bateu em todas as portas. E toda a aldeia sorriu quando o encontraram. E onde é que ele estava? Muito bem aconchegado, de olhos abertos e sempre a rir, deitado na cama da Sara.
Com as mãos retiram das pedras compridos torrões de musgo, tufos de erva, heras muito verdes. Quando o cesto fica a transbordar levam-no com custo para dentro da igreja. Depois, na sacristia pegam numa chave muito velha, muito grande e abrem a porta dum armário antigo. E, de repente, faz-se um grande silêncio.
Com muito cuidado, retiram as figuras de barro e levam-nas para junto do altar-mor. Pacientemente montam as ripas e pregam-nas. Colocam caixotes e pedregulhos. E cobrem tudo com musgo, hera e ervas. E, de repente, tudo se transforma: lá está ela, a gruta de Belém. E os montes, os penedos, os caminhos. Logo depois de aparecem os pastores e os rebanhos. Uma vaca com um chifre partido, e um burrico sem uma orelha metem-se dentro da gruta. E ficam muito quietos a bafejar à beira da manjedoura que tem palha.
Cansados, chegam José, depois Maria. Finalmente, gorducho e sem roupa, Jesus deita-se sobre a manjedoura. E, indiferente ao frio, não pára de rir. Os miúdos ficam um ror de tempo a olhar para ele, assim tão mal agasalhado.
Por isso, o ano passado o sacristão apanhou um grande susto. À noitinha deu pela falta de Jesus. Aflito, bateu em todas as portas. E toda a aldeia sorriu quando o encontraram. E onde é que ele estava? Muito bem aconchegado, de olhos abertos e sempre a rir, deitado na cama da Sara.
António Mota (livro “Caminhar 4ºano”)
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