07 março 2012

Conto LXXII

Se…


Se souberes estar sereno quando todos em volta
Estão perdendo a cabeça e te lançam a culpa,
Se estiveres confiante quando de ti duvidam
Mas souberes desculpar que duvidem de ti,
Se fores capaz de esperar sem perder a paciência
E se, caluniado, a ninguém calunias;
Se quando te odiarem não odiares também,
Sem querer ser superior nem parecer bom demais;

Se tu souberes sonhar e não viver de sonhos
E se souberes pensar mas sem deixar de agir
E puderes defrontar o Triunfo e o Desastre,
Tratando-os por igual como impostores que são
Se suportares ouvir verdades que disseste
Torcidas por velhacos para convencer ingénuos,
Se vires desfeito aquilo para que tens vivido
E o constituíres de novo com ferramentas gastas;

Se és capaz de juntar tudo o que tiveres ganho
Para tudo arriscar numa cartada só,
E se souberes perder e começar de novo
Sem palavra dizer da perda que sofreste,
Se conseguires que nervos, braços e coração
Te vão servindo sempre mesmo que já exaustos,
E se seguires p’ra frente quando já não tens nada
A não ser a vontade intensa de vencer

Se com falar às massas não perderes a virtude
E de privares com Reis não deixares de ser simples,
Se amigo ou inimigo não puder melindrar-te;
Se contigo contarem mas sem de ti disporem,
Se souberes preencher o minuto que passa
Com sessenta segundos utilmente vividos,
É tua a Terra inteira e tudo o que ela tem
E – o que é mais ainda – és um Homem meu filho!

Rudyard Kipling

(Tradução do Comandante Vasco Lopes Alves)

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