Sabes meu filho… até hoje não tive tempo para brincar contigo.
Arranjei tempo para tudo, menos para te ver crescer.
Nunca joguei contigo dominó, damas, xadrez ou batalha naval…
Eu percebo que tu me procuras, mas sabes meu filho… eu sou muito importante e não tenho tempo.
Sou muito importante para números, convites sociais e toda uma série de compromissos inadiáveis.
Como largar tudo isto para ir brincar contigo?
Não, não tenho tempo.
Um dia trouxeste o teu caderno escolar para eu ver e ficaste ao meu lado.
Lembras-te?
Não te dei atenção e continuei a ler o jornal.
Porque afinal, afinal os problemas internacionais são mais sérios do que os da minha casa.
Nunca vi os teus livros e nem conheço a tua professora, nem me lembro qual foi a tua primeira palavra mas tua sabes, eu não tenho tempo.
De que adianta saber as mínimas coisas a teu respeito se eu tenho outras grandes coisas a saber.
Incrível!
Como tu cresceste.
Estás tão alto, nem tinha reparado nisso.
Aliás, eu quase que não reparo em nada.
Na minha vida agitada, quando tenho tempo eu prefiro usá-lo lá fora, porque aqui fico calado diante da televisão.
Porquê?
Porque a televisão é importante e informa-me muito.
Sabes meu filho… a última vez que tive tempo para ti, foi uma noite de amor com a tua mãe.
Eu sei que tu te queixas, eu sei que sentes falta de uma palavra, de uma pergunta amiga, de uma brincadeira, de um chuto na tua bola, mas eu não tenho tempo.
Eu sei que sentes falta de uma abraço, de um sorriso, de um passeio a pé, de ir até ao quiosque ao fundo da rua comprar um jornal, uma revista, mas sabes há quanto tempo eu não ando a pé na rua?
Não tenho tempo.
Mas tu entendes!
Eu sou um homem importante, tenho de dar atenção a muita gente, eu dependo delas.
Meu filho tu não entendes nada de comércio.
Na realidade, eu sou um homem sem tempo.
Eu sei que tu ficas triste, porque as poucas vezes que falamos é um monólogo, só eu é que falo que quero silêncio, quero sossego e tu tens a péssima mania de querer brincar com a gente, tens a mania de querer saltar para os braços dos outros.
Filho, eu não tenho tempo para te abraçar, não tenho tempo para conversas e brincadeiras de crianças.
Filho, o que é que tu percebes de computadores, comunicação, cibernética racionalismo?
Tu sabes quem é Descartes e Kant?
Como é que eu vou parar para falar contigo?
Sabes meu filho, não tenho tempo.
Mas o pior de tudo, o pior de tudo é que se tu morresses agora, já, neste instante, eu ficava com um peso na consciência.
Porque até hoje, até hoje não arranjei tempo para brincar contigo, e na outra vida, Deus não terá tempo de me deixar
Pelo menos ver-te.
Arranjei tempo para tudo, menos para te ver crescer.
Nunca joguei contigo dominó, damas, xadrez ou batalha naval…
Eu percebo que tu me procuras, mas sabes meu filho… eu sou muito importante e não tenho tempo.
Sou muito importante para números, convites sociais e toda uma série de compromissos inadiáveis.
Como largar tudo isto para ir brincar contigo?
Não, não tenho tempo.
Um dia trouxeste o teu caderno escolar para eu ver e ficaste ao meu lado.
Lembras-te?
Não te dei atenção e continuei a ler o jornal.
Porque afinal, afinal os problemas internacionais são mais sérios do que os da minha casa.
Nunca vi os teus livros e nem conheço a tua professora, nem me lembro qual foi a tua primeira palavra mas tua sabes, eu não tenho tempo.
De que adianta saber as mínimas coisas a teu respeito se eu tenho outras grandes coisas a saber.
Incrível!
Como tu cresceste.
Estás tão alto, nem tinha reparado nisso.
Aliás, eu quase que não reparo em nada.
Na minha vida agitada, quando tenho tempo eu prefiro usá-lo lá fora, porque aqui fico calado diante da televisão.
Porquê?
Porque a televisão é importante e informa-me muito.
Sabes meu filho… a última vez que tive tempo para ti, foi uma noite de amor com a tua mãe.
Eu sei que tu te queixas, eu sei que sentes falta de uma palavra, de uma pergunta amiga, de uma brincadeira, de um chuto na tua bola, mas eu não tenho tempo.
Eu sei que sentes falta de uma abraço, de um sorriso, de um passeio a pé, de ir até ao quiosque ao fundo da rua comprar um jornal, uma revista, mas sabes há quanto tempo eu não ando a pé na rua?
Não tenho tempo.
Mas tu entendes!
Eu sou um homem importante, tenho de dar atenção a muita gente, eu dependo delas.
Meu filho tu não entendes nada de comércio.
Na realidade, eu sou um homem sem tempo.
Eu sei que tu ficas triste, porque as poucas vezes que falamos é um monólogo, só eu é que falo que quero silêncio, quero sossego e tu tens a péssima mania de querer brincar com a gente, tens a mania de querer saltar para os braços dos outros.
Filho, eu não tenho tempo para te abraçar, não tenho tempo para conversas e brincadeiras de crianças.
Filho, o que é que tu percebes de computadores, comunicação, cibernética racionalismo?
Tu sabes quem é Descartes e Kant?
Como é que eu vou parar para falar contigo?
Sabes meu filho, não tenho tempo.
Mas o pior de tudo, o pior de tudo é que se tu morresses agora, já, neste instante, eu ficava com um peso na consciência.
Porque até hoje, até hoje não arranjei tempo para brincar contigo, e na outra vida, Deus não terá tempo de me deixar
Pelo menos ver-te.
Neimar de Barros
in Almanaque de Santa Zita 2012
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