A Poda
Olha a minha pobre árvore, cheia de ramos que não prestam.
Os meus frutos não têm cor e perdem-se na inutilidade.
Nem sequer os animais se aproveitam deles como alimento.
Contudo, eu Sonho ainda com oferecer frutos viçosos, atraentes, que possam ser grato alimento para os viandantes.
Frutos que recomponham o homem da fome e do cansaço.
Mas olha a minha pobre árvore, sonhando com o que não lhe pertence e esquecendo a sua própria colheita.
Vêm mãos ansiosas, estendidas, confiadas, recolher os frutos da minha árvore, e encontram decepção, insignificância, frutos que não prestam, que não servem para alimento.
A doença, uma chaga interior, deixam raquítico o fruto da minha árvore. No meu interior abrem-se gretas de obscuridade e de morte, e à superfície aparecem os estigmas da esterilidade.
Antes que o mal se estenda às raízes, cura a doença que cresce e me leva à morte.
Pega nos teus utensílios, podador. Conta tudo o que estiver seco, podre, tudo o que impede o caminho à seiva.
Pega nos teus utensílios, podador, arranca da minha árvore toda a rama inútil, toda a rama que estorva o crescimento.
Eu sei que a tua poda me causará dor uma e outra vez e sempre que se faça, mas pega nos teus utensílios, podador, e mete mãos à obra.
E a hora da dor esperançada. Podador, ponho-me nas tuas mãos. Divino Podador, Tu, eu e o vento.
Sem comentários:
Enviar um comentário